sexta-feira, 19 de janeiro de 2018


O MUNDO DESDE O FIM



LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 1988.

 

O título deste livro não poderia ser mais correto. É isto um homem? é uma indagação, que aparentemente pode parecer banal e óbvia, mas que trata do limite a que o homem, como ser humano, pode estabelecer para si e para o outro. Afinal de contas, o que é ser humano?

Levi (1988) nos mostra até onde o homem pode chegar, e nos surpreende em dizer que o fundo do poço não tem fundo. As atrocidades que um homem (aqui descaracterizando a questão de gênero, mas caracterizando a situação de espécie humana) pode infligir a outro não tem limites.

Preso em Fóssoli, Levi foi transferido ao campo de concentração em fevereiro de 1944, onde descobriria até onde a dignidade humana poderia ser rebaixada. Logo ao embarcar no trem, gratuitamente, recebe as boas vindas dos guardas alemães e se pergunta, inocentemente, “[...] como é que, sem raiva, pode-se bater numa criatura humana?” (1988, p. 15). Logo iria descobrir.

Do vagão que o conduziu ao seu destino, apenas 4 passageiros voltariam a ver suas casas. E este, segundo Levi, foi o vagão mais afortunado.



Imagine-se, agora, um homem privado não apenas dos seres queridos, mas de sua casa, seus hábitos, sua roupa,. tudo, enfim, rigorosamente tudo que possuía; ele será um ser vazio, [...] - pois quem perde tudo, muitas vezes perde também a si mesmo; transformado em algo tão miserável, que facilmente se decidirá sobre sua vida e sua morte, [...] (LEVI, 1988, p. 25).





A iminência da morte, o trabalho exaustivo, a fome, transformam o campo de concentração em um estágio no inferno, no limbo da civilização, onde homens submetem seus iguais à todo tipo de sorte.

É isto um homem? É um relato amargo e desesperançoso sobre a condição humana, e sobre poder, esperança e desespero. Sabendo que a História, por vezes, se repete, fica o fantasma do medo preso no subconsciente, após a leitura do livro. Até onde o homem pode chegar em sua involução, alimentada por ideias excludentes e separatistas. Será isto – esse modelo atual – um homem?