sábado, 4 de março de 2017



A HISTÓRIA PELO CINEMA

 

Graças ao trabalho de Descartes, ainda no século XVII, com o seu Discurso sobre o Método (1637),  inicia-se a prevalência da razão sobre a crença religiosa. No século XIX, a humanidade, já municiada do método científico, torna-se capaz de conceber um grande salto em vários campos, como por exemplo na matemática, física e, como não poderia deixar de ser, na ciência.

A história, que até aquele momento amalgamava-se com a filosofia, tinha por objetivo tornar-se ciência também, como tantas outras disciplinas eruditas.

A partir daí, tornava-se necessário criar mecanismos científicos para o ato de se escrever a História. A isso chamamos de historiografia, ou seja, a ciência da História, ou o produto do conhecimento histórico obtido racionalmente, obedecendo regras metodológicas e de cognição da história com pretensões de cientificidade (RUSEN, 1995, apud CORDEIRO, 2015).

Nos idos do século XIX, com o surgimento da Escola Positivista, consideravam-se fontes somente os documentos oficiais, limitando-se aos documentos de Estado.

Entretanto, a partir do surgimento dos Analles, começa-se a questionar a limitação das fontes oficiais. O resultado deste questionamento foi o significativo aumento do número de fontes possíveis de investigação por parte do historiador (SOUZA, 2003).

A partir daí, dá-se como fonte de pesquisa, também, as fontes orais, arqueológicas, audiovisuais, periódicos, entre outros que possam servir para contar a História. Mais recentemente, a partir da década de 1970, através de trabalhos de Marc Ferro e da Nova História (SANTIAGO JÚNIOR, 2001), começa-se, inclusive, a considerar as obras cinematográficas, como de importância historiográfica, em um claro sinal da multiplicidade de fontes as quais o historiador pode lançar mão.

À essa altura, convém questionarmos qual utilidade teria ao lançarmos mão das obras cinematográficas como ferramenta auxiliar no processo ensino-aprendizagem de história. Segundo Napolitano (2008, p. 236) “vivemos em um mundo dominado por imagens e sons”, o que por si só já seria suficiente para fazermos incorporar o cinema e outras tecnologias na sala de aula.

O cinema, palavra de origem etmológica grega, KINEMA (imagem em movimento),  “possibilita aqueles que o assistem de terem diante de seus olhos uma representação da realidade social da época em que vivem ou até mesmo de épocas passadas” (LIMA, 2015, p.1), facilitando a assimilação de assunto exposto em sala.

Mesmo o filme, sendo “imagem ou não da realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é História” (FERRO, 2010, p. 32), acima de tudo.

Entretanto, apesar de termos tal ferramenta disponível, “o uso de recursos cinematográficos ainda carece de melhoramentos por parte dos profissionais que o utilizam” (SOUZA; SOARES, 2003, p. 2). Há muito ainda o que se extrair de benefício da utilização das obras cinematográficas em sala de aula.

De certo, com o auxílio do cinema “é possível aprender História, e esse processo de cognição serve para interpretar a ação humana em tempos e lugares diferentes” (PEREIRA; SILVA, 2014, p. 318).

A utilização do cinema no processo ensino-aprendizagem favorece o estabelecimento de “diálogos com conceitos teóricos que remetem para discussões e as posturas em relação à iconografia e imagens, trazidas pelas novas abordagens historiográficas” (SOUZA; SOARES, 2003, p. 2), além de facilitar a “assimilação de conteúdos por parte dos alunos despertando o interesse pelo tema tratado” (LIMA, 2015, p. 95).

Um filme pode ser um excelente recurso didático. E como qualquer outro recurso didático, ele por si só, “não resolve os problemas no processo ensino-aprendizagem” (LIMA, 2015, p. 95), porém, os filmes “tem sempre alguma possibilidade para o trabalho escolar” (NAPOLITANO, 2004, p. 12).

Cabe ao historiador, desvencilhar-se de preconceitos e entender a obra cinematoráfica também como fonte de pesquisa, dando oportunidade de enriquecimento à Historia.


REFERÊNCIAS

FERRO, Marc. Cinema e história. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
LIMA, D.R.L. Cinema e história: o filme como recurso didático no ensino/aprendizagem da história. Revista Historiador, [S.l.], n. 07. p. 94-108, jan. 2015.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
NAPOLITANO, Marcos. Fontes audiovisuais:a história depois do papel, In: PINSKY, Carla Bessanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo : Contexto, 2008.
SANTIAGO JÚNIOR, Francisco das Chagas Fernandes. Cinema e historiografia: trajetória de um objeto historiográfico (1971-2010). História da historiografia, ouro preto, n.8, abr/2012, p. 151-173.

SOUZA, P.J.C; SOARES, V.G. Cinema e ensino de história. XXVII Simpósio Nacional de História. Natal. 22-26 jul. 2003.




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