A
HISTÓRIA PELO CINEMA
Graças ao trabalho de Descartes, ainda no
século XVII, com o seu Discurso sobre o
Método (1637), inicia-se a
prevalência da razão sobre a crença religiosa. No século XIX, a humanidade, já
municiada do método científico, torna-se capaz de conceber um grande salto em
vários campos, como por exemplo na matemática, física e, como não poderia
deixar de ser, na ciência.
A história, que até aquele momento
amalgamava-se com a filosofia, tinha por objetivo tornar-se ciência também,
como tantas outras disciplinas eruditas.
A partir daí, tornava-se necessário criar
mecanismos científicos para o ato de se escrever a História. A isso chamamos de
historiografia, ou seja, a ciência da História, ou o produto do conhecimento histórico
obtido racionalmente, obedecendo regras metodológicas e de cognição da história
com pretensões de cientificidade (RUSEN, 1995, apud CORDEIRO, 2015).
Nos idos do século XIX, com o surgimento da
Escola Positivista, consideravam-se fontes somente os documentos oficiais,
limitando-se aos documentos de Estado.
Entretanto, a partir do surgimento dos Analles, começa-se a questionar a
limitação das fontes oficiais. O resultado deste questionamento foi o
significativo aumento do número de fontes possíveis de investigação por parte do
historiador (SOUZA, 2003).
A partir daí, dá-se como fonte de pesquisa,
também, as fontes orais, arqueológicas, audiovisuais, periódicos, entre outros
que possam servir para contar a História. Mais recentemente, a partir da década
de 1970, através de trabalhos de Marc Ferro e da Nova História (SANTIAGO JÚNIOR, 2001), começa-se, inclusive, a
considerar as obras cinematográficas, como de importância historiográfica, em
um claro sinal da multiplicidade de fontes as quais o historiador pode lançar
mão.
À essa altura, convém questionarmos qual
utilidade teria ao lançarmos mão das obras cinematográficas como ferramenta
auxiliar no processo ensino-aprendizagem de história. Segundo Napolitano (2008,
p. 236) “vivemos em um mundo dominado por imagens e sons”, o que por si só já
seria suficiente para fazermos incorporar o cinema e outras tecnologias na sala
de aula.
O cinema, palavra de origem etmológica grega,
KINEMA (imagem em movimento),
“possibilita aqueles que o assistem de terem diante de seus olhos uma
representação da realidade social da época em que vivem ou até mesmo de épocas
passadas” (LIMA, 2015, p.1), facilitando a assimilação de assunto exposto em
sala.
Mesmo o filme, sendo “imagem ou não da
realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é História”
(FERRO, 2010, p. 32), acima de tudo.
Entretanto, apesar de termos tal ferramenta
disponível, “o uso de recursos cinematográficos ainda carece de melhoramentos
por parte dos profissionais que o utilizam” (SOUZA; SOARES, 2003, p. 2). Há
muito ainda o que se extrair de benefício da utilização das obras
cinematográficas em sala de aula.
De certo, com o auxílio do cinema “é possível
aprender História, e esse processo de cognição serve para interpretar a ação
humana em tempos e lugares diferentes” (PEREIRA; SILVA, 2014, p. 318).
A utilização do cinema no processo
ensino-aprendizagem favorece o estabelecimento de “diálogos com conceitos
teóricos que remetem para discussões e as posturas em relação à iconografia e
imagens, trazidas pelas novas abordagens historiográficas” (SOUZA; SOARES, 2003,
p. 2), além de facilitar a “assimilação de conteúdos por parte dos alunos
despertando o interesse pelo tema tratado” (LIMA, 2015, p. 95).
Um filme pode ser um excelente recurso
didático. E como qualquer outro recurso didático, ele por si só, “não resolve
os problemas no processo ensino-aprendizagem” (LIMA, 2015, p. 95), porém, os
filmes “tem sempre alguma possibilidade para o trabalho escolar” (NAPOLITANO,
2004, p. 12).
Cabe ao historiador, desvencilhar-se de
preconceitos e entender a obra cinematoráfica também como fonte de pesquisa,
dando oportunidade de enriquecimento à Historia.
REFERÊNCIAS
FERRO, Marc. Cinema e história.
São Paulo: Paz e Terra, 2010.
LIMA, D.R.L. Cinema e
história: o filme como recurso didático no ensino/aprendizagem da história. Revista Historiador, [S.l.], n. 07. p.
94-108, jan. 2015.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o
cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
NAPOLITANO, Marcos. Fontes audiovisuais:a
história depois do papel, In: PINSKY, Carla Bessanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo :
Contexto, 2008.
SANTIAGO JÚNIOR, Francisco das Chagas Fernandes. Cinema e
historiografia: trajetória de um objeto historiográfico (1971-2010). História
da historiografia, ouro preto, n.8, abr/2012, p. 151-173.
SOUZA, P.J.C; SOARES,
V.G. Cinema e ensino de história. XXVII
Simpósio Nacional de História. Natal. 22-26 jul. 2003.
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