quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017


PERDENDO O BONDE.


DACANAL, José Hildebrando. Brasil: do milagre à tragédia (1964 – 2004). Porto Alegre: Leitura XXI, 2005.

 

Em seu ensaio, Brasil: do milagre à tragédia, o professor e jornalista José Hildebrando Dacanal, tenta traçar um paralelo entre os distintos países chamados Brasil, aquele das décadas de 1960/70, dominado pela mão dos militares e o Brasil da década de 2000, e seus problemas.

Dacanal expõe, entre outros pontos, o que favoreceu o surgimento do milagre brasileiro, como “resultado de um conjunto de fatores obviamente heterogêneos” (DACANAL, 2005, p. 15) que transformou um país de características agrárias, levando-o da pré-história à era do petróleo, dos transportes rápidos e das comunicações internacionais.

Entretanto, segundo o autor, o esgotamento do projeto militar, pressões externa e interna, entre outros fatores, levaram o país à década perdida dos anos 1980.

Dacanal é enfático em nos mostrar que o vácuo criado pelo retorno dos militares aos quartéis e a devolução do comando do país à sociedade civil, promoveu o retorno da velha elite política, que afastada do poder há mais de duas décadas, só tinha em mente o projeto de se apropriar do Erário Público, “[...] na senda da secular tradição das classes dominantes ibéricas, cuja visão patrimonialista sempre englobou, antes de tudo, o próprio Estado e os recursos de que ele se adona [...]” (DACANAL, 2005, p. 55).

Prova disso foi a enxurrada de concessões políticas na Era Sarney, com o único objetivo de se comprar apoio político. Tal nefasta artimanha seria copiada em governos futuros, vide a compra de apoio para a aprovação da emenda constitucional que permitiria a reeleição para chefes do Executivo, realizada no governo de Fernando Henrique Cardoso, ou no processo do mensalão do governo Lula.

Segundo o autor, “[...] esse perverso conúbio das velhas oligarquias com as novas forças gestadas [...] visava como sempre, à pilhagem do Estado” (DACANAL, 2005, p. 56).

Indo além, Dacanal expõe, o que para ele se transformou o Partido dos Trabalhadores, nos últimos anos.



[...] um conjunto espantoso de corporativistas ensandecidos, adolescentes desorientados, arrivistas lépidos, vigaristas sociais, totalitários enrustidos, messiânicos desarvorados, camponeses desesperados, intelectuais arrogantes, sindicalistas mais ou menos ignorantes, ingênuos bem intencionados e demagogos ilustrados [...] (DACANAL, 2005, p. 50).



Como ideologia, o PT foi a última ilusão do Brasil arcaico, fruto das transformações sociais e econômicas iniciadas ainda na década de 1970, abandonadas na década de 1980 e utilizada como discurso populista nas décadas posteriores.

Brasil: do milagre à esperança, não traz nenhuma receita de como transformar esse país, saqueado e vampirizado há tantos séculos, em uma nação digna, mas faz com que encaremos o que, consciente ou inconscientemente, tentamos jogar para debaixo do tapete.

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