quinta-feira, 12 de janeiro de 2017


PALAVRAS MACHUCAM










PONDÉ, Luís Felipe. A era do ressentimento. São Paulo: LeYa, 2014.



Luiz Felipe Pondé, filósofo e escritor brasileiro, doutor em filosofia pela Universidade de Paris e pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv, amado por uns e odiado por outros tantos, é autor de A era do ressentimento, obra em que expõe, como de costume, sua crítica ao mundo politicamente correto.

Em seus textos/crônicas, Pondé aponta sua metralhadora para vários alvos, e especificamente, mira e acerta nos “ressentidos”, que segundo ele “são pessoas que passam a vida buscando não sentir o que a vida é”. São, em geral, pessoas que por não serem o que desejariam, odeiam e se ressentem das que o são, sendo o ressentimento uma forma invisível de cegueira, segundo o autor.

De acordo com Pondé, Nietzsche foi o primeiro filósofo a perceber de forma clara o ressentimento como marca humana essencial, sendo a luta de classes, proposta pelo marxismo, fruto do ressentimento social existente entre o proletariado e a burguesia. O ressentido de hoje, afoga suas mágoas e deficiências emocionais no consumo desenfreado, que aplaca seu vazio existencial momentaneamente.

Outro alvo do autor é a “mulher independente”, que seria melhor definida como incapaz de encontrar um homem que queira fecunda-la e que a obedeça, do que como mulheres sem filhos e profissionalmente ativas, como preferem as feministas.

Segundo Pondé, vivemos um tempo em que nos transformou em seres covardes e solitários, dependentes da “cultura do narcisismo”, que nos leva a envelhecermos como retardados felizes. Tal covardia consolida-se pelo ensino atual, onde professores afirmam que matar é feio e opressor, o que teria permitido, se fosse hoje, a Alemanha vencer a segunda guerra mundial, tal diferença existente entre as gerações.

Tal ensino, associado aos ditames dos politicamente corretos tenderão a castrar nosso jovens machos, que se sentirão obrigados a sentirem desejo por outros jovens machos, pois o policiamento dos politicamente corretos tornará, em um futuro próximo, crime, o simples ato de olhar para uma mulher. O que dirá olhar com desejo.

A era do ressentimento é indicada para as pessoas que se sentem sufocadas em um mundo cada dia mais chato e monocromático, como o que vivemos, e gostaria de saber que não é o único que pensa dessa forma.

Ótimo livro.

Mas não o leia se você for um ressentido. Pode te magoar.



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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017


NOS TEMPOS DO CABRAL




STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. Porto Alegre: L&PM, 2008.

“Lá vem sua comida pulando”, a frase dita pelo alemão Hans Staden, diante de seus raptores tupinambás, foi, segundo Eduardo Bueno, responsável por Tarsila do Amaral decidir pintar seu quadro Abaporu, e Oswald de Andrade deflagrar o movimento antropofágico, marcos que eclodiriam na Semana de Arte Moderna.

Mas quem foi Hans Staden? Apesar de informações escassas sobre este alemão, sabe-se que foi um aventureiro e mercenário que empreendeu duas viagens ao Brasil, ainda na primeira metade do século XVI.

Tais viagens ao nosso país são o tema de seu relato, uma história verídica que conta a descrição de uma terra de “selvagens, nus e cruéis comedores de seres humanos, [...] desconhecida antes e depois de Jesus Cristo”, segundo as próprias palavras de Staden.

O livro é antes de tudo um relato de fé, pois sendo Staden, um cristão que se deixou apanhar por índios antropófagos, é frequente, em sua narrativa dos fatos vividos, a esperança depositada em um auxílio celeste, espiritual, metafísico, ou como você preferir chamar.

Por outro lado, não é difícil tomar seu lado, frente a incansável ameaça de poder ser morto e devorado a qualquer momento pelos (como ele próprio chama) “selvagens” e “cruéis” tupinambás, que fariam os defensores do evolucionismo cultural bradarem suas teorias com uma certeza cristalina.

O livro  A sociedade antiga de Lewis Morgan seria publica apenas em 1877, mas o relato de Staden passaria muito bem por um estudo sobre evolução cultural. De um lado, um cristão europeu, temente a Deus, responsável pela segurança de sua vila, imbricada no meio do inferno verde da mata e defensor da coroa real; e do outro lado, os selvagens comedores de carne humana.

De qualquer forma, dentro do relato sobre as duas viagens ao Brasil, todo o tom macabro é referente à última. É bem provável que, depois de toda a carga de temor e adrenalina presente, o jovem Staden não se dispôs a fazer uma terceira. Vai que a sorte muda...

Outra característica que chama a atenção é o fato de portugueses e tupinambás, apesar de se digladiarem frequentemente, serem capazes de realizar negócios, como exposto no capítulo 38.

Era comum os portugueses irem também para as terras de seus inimigos, embora viajassem bem armados, para fazer comércio com eles. Eles dão aos selvagens facas e foices em troca de farinha de mandioca, que os selvagens têm em abundância em algumas regiões (STADEN, 2008, p. 77).


A narrativa de Staden dá margem para uma avaliação de costumes, tanto por seus habitantes naturais como por seus invasores, em uma terra ainda inexplorada, precária e carente.

Apresenta uma leitura leve com seus capítulos curtos de narrativa clara e ágil, sendo obra obrigatória a quem se propõe desvendar nuances de um Brasil ainda desconhecido e misterioso.




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domingo, 1 de janeiro de 2017

A SEXUALIDADE GREGA




Existem vários estudos sobre a importância que as culturas helenas dedicavam ao contato sexual entre seres do mesmo sexo biológico e a falta de influência das mulheres perante os homens (SOUZA, 2007).
Entretanto, antes de tudo, é necessário entendermos o contexto histórico, social e cultural para que não sejamos traídos pelas armadilhas do anacronismo.
O que entendemos por sexualidade, nada mais é do que um conceito moderno do qual os gregos não compartilhavam. O próprio termo “homossexual” foi utilizado pela primeira vez em 1869, pelo belga K. M. Kentbeny (CORINO, 2008), e o que temos hoje, como conceito e ideia sobre sexualidade é devido à nossa herança judaico-cristã (FUNARI, 2002).
O “amor nobre” era baseado em uma relação de educação, pedagógica, entre professor e aluno. A palavra pederastia é originada de paidos, em grego, menino, assim como  pedagogia.
Os romanos se referiam às relações entre homens de “amor à grega”, onde os professores, mais velhos, relacionavam-se sexualmente com seus alunos, jovens entre 12 e 18 anos de idade, não sendo portanto considerados “homossexuais”, pelo fato deste termo não existir à época.
Tal costume era generalizado entre a elite, e as classes menos favorecidas aceitavam como normal.
Haviam banquetes onde se comia, bebia, e filosofava. Além disso, tais banquetes, vez por outra, transformavam-se em orgias sexuais, envolvendo homens com homens, e homens com hetairas (as “companheiras”, não esposas).
As únicas falhas que um homem poderia cometer era se deixar levar pela paixão por outro homem, submetendo-se assim a passividade diante do outro; ou o descontrole que levasse um homem a exibir modos efeminados.
Segundo Corino (2008), em Atenas existia um bairro chamado Cerâmico, onde a prostituição, tanto feminina quanto masculina, era liberada, e os jovens que a praticavam, faziam pelo dinheiro ou simplesmente pelo vício em sexo. A prostituição masculina era permitida por lei, entretanto a seus  praticantes não era permitido a ocupação de cargos públicos, por se acreditar que um homem que vendia seu corpo não hesitaria em vender os interesses da cidade.
Além disso, as relações entre homens de mesma idade não era bem aceita. O que se aceitava socialmente era a relação de um homem mais velho (eraste) com seu jovem pupilo (eromenos), como relatado anteriormente, como uma relação pedagógica.
As mulheres gregas tinham uma única missão na terra: procriar. Eram incapazes de transmitir conhecimento, sendo encaradas como intelectual, física e emocionalmente inferiores aos homens, que detinham o poder político e eram responsáveis por educar os mais jovens, que por sua vez absorveriam conhecimento, casariam, procriariam e seriam professores de outros jovens no futuro, com quem se relacionariam sexualmente.
Com o advento do cristianismo e da ideia do “pecado original”, dando ao sexo o papel de simples reprodução, o conceito grego foi abolido.

PARA LER MAIS:
FUNARI, P. P. Grécia e Roma. São Paulo: Pinsky, 2002.
CORINO, Luiz Carlos Pinto. Homoerotismo na Grécia antiga – homossexualidade e bissexualidade, mitos e verdades. BIBLOS, [S.l.], v. 19, p. 19-24, jan. 2008.
SOUZA, Luana Neres de. A sexualidade na Grécia antiga. História Revista. Goiânia. v. 12, n. 2, p. 387-390, jul./dez. 2007.