sábado, 24 de dezembro de 2016

O DOCUMENTO HISTÓRICO


KARNAL, Leandro; TATSCH, Flávia Galil. A memória evanescente. In: PINSKY, Carla; LUCA, Tânia de (orgs.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. p. 19 – 28.






Leandro Karnal e Flávia Tatsch, trazem-nos, no capítulo intitulado A memória evanescente, presente na obra de Carla Pinsky e Tânia de Lucca, O historiador e suas fontes, o conceito de documento histórico.
Inicialmente, elevando a importância do documento como base para o julgamento histórico, para logo em seguida indagar-nos: o que é um documento histórico?
Desconstruindo a ideia de que um documento histórico seria “uma folha de papel escrita por alguém importante”, como muito se fez acreditar no passado, Karnal e Tatsch, lembram-nos que sem documentos não há História.
Entretanto, a idéia de documento histórico foi amplamente alargada, desde o advento da Escola dos Annales, responsável pela ruptura do paradigma da Escola Metódica, que no século XIX certificava que o documento, seria em essência, o texto escrito.
Somando-se ao documento escrito clássico, defendido pela Escola Metódica, teríamos disponíveis também o documento arqueológico, a fonte iconográfica, o relato oral e “todo e qualquer mecanismo que possibilite uma interpretação”.
Tal ideia, segundo os autores, levou além, não só a noção do documento histórico, como também o trabalho do historiador.
O documento tem tanta importância, frente à História, que discutir o que é um documento histórico é estabelecer qual memória deve ser preservada.
Diante disso, Karnal e Tastch se utilizam da carta de Pero Vaz de Caminha, que durante mais de duzentos anos permaneceu esquecida na Torre do Tombo, em Portugal, para somente em 1773 ser (re)conhecida como documento histórico, sendo publicada somente em 1817, alcançando “o cume da hierarquia documental”,exposta em vitrine hermética, com iluminação e temperatura controladas.
Assim, observa-se a “construção permanente” do documento histórico, onde importa, também, de um lado o valor do texto, e do outro, o olhar de quem o lê, que, dependendo da leitura temporal, pode gerar valores extremamente diferentes.
O documento, segundo Karnal e Tastch, é responsável por criar uma conexão entre presente e passado, e o que não é documento histórico hoje, poderá ser amanhã, dado a mutabilidade do sentido conferido a ele. A concepção do documento histórico depende do meio social em que se encontra. Vide a carta de Pero Vaz de Caminha, que em seu tempo não passava de uma simples carta, sendo elevada ao patamar de documento histórico alguns séculos depois.
De qualquer forma, todos os caminhos tomados pelos Annales, estimularam a ampliação dos objetos históricos, cumprindo o desejo de Marc Bloch. Além disso, transforma o papel do historiador, dando a ele ares de detetive, que deve “extrair coisas que só aparecem de forma indireta”.
Sintetizando a idéia de documento histórico, Karnal e Tastch expõem a ideia de que qualquer fonte sobre o passado, conservado por acidente ou propositalmente, analisado a partir do presente e que possa criar diálogos com o passado é documento histórico.

Marc Bloch diria que sim.