segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CENAS ANTERIORES A 1964: JÂNIO QUADROS.


No final da década de 1950, o Brasil passava por um período de grande transformação econômica e social, onde industrialização e urbanização eram as palavras de ordem, com forte migração oriunda do nordeste para o sudeste do país, em especial para o estado de São Paulo.

Em 1960, Jânio Quadros foi eleito democraticamente presidente da República. Figura folclórica, vinha de sucessivas vitórias eleitorais. Fora eleito prefeito da capital paulista e posteriormente governador de São Paulo. À essa época, votava-se separadamente para presidente e vice-presidente. Jânio Quadros fora eleito presidente, mas não fez o seu vice, sendo eleito João Goulart, político gaúcho com forte ligação com a esquerda socialista da época.


Pouco se viu da gestão presidencial de Jânio Quadros. Eleito em 1960, tomou posse em 31 de janeiro de 1961 e renunciou em 25 de agosto do mesmo ano. Foram menos de sete meses de mandato.

Marco Villa defende a hipótese de que Jânio Quadros desejava intimamente repetir o feito de Charles de Gaulle, que derrubou a IV República na França, assumiu o governo e aprovou uma nova constituição francesa. Para Jânio Quadros foi um tiro no pé. O Congresso aceitou imediatamente sua renúncia, as manifestações populares exigindo sua permanência na presidência não aconteceram e ao invés de retornar ao poder nos braços do povo, foi pra casa dirigindo seu DKW.

Em seu meteórico governo, podemos citar em seus feitos a condecoração da Ordem do Cruzeiro do Sul dada ao revolucionário Che Guevara (fato que desagradou muitíssimo seus próprios aliados), as proibições de rinhas de galo e do uso de biquini na transmissão dos concursos de miss.

A vassoura, que Jânio usava como símbolo em suas campanhas, acabou varrendo ele próprio da cena política do Brasil.

Para ler mais:

VILLA, Marco Antonio. Ditadura à brasileira – 1964-1985: A democracia golpeada à esquerda e à direita/Marco Antonio Villa. – São Paulo: LeYa, 2014.

GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

O HORROR! O HORROR!

As últimas palavras do Sr. Kurtz, personagem do romance O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, traduz muito bem a sensação de incredulidade diante de uma das mais famigeradas criações da raça humana: a guerra.


A literatura, por vezes, relata de forma magistral o que nem mesmo a História consegue transformar em palavras. Exemplo disso é a narrativa empregada por Erich Remarque, em sua obra Nada de Novo no Front, onde podemos ter contato com a crueldade e insanidade que foi a Primeira Guerra Mundial.

Segundo Hobsbawm (1995), até 1914 não havia noticia da existência de guerras de tão alto poder de extermínio como a Primeira Guerra Mundial, que começou como um embate continental, entre a tríplice aliança (França, Inglaterra e Rússia) de um lado e as “Potências Centrais” (Alemanha e Áustria-Hungria) do outro.

O saldo das perdas de vidas humanas foi assustador: A Inglaterra perdeu meio milhão de homens com menos de trinta anos de idade. A França entregou à morte 1,6 milhão de vidas e os alemães perderam 1,8 milhão de patrícios, demonstrando “a natureza assassina da frente ocidental”.

Nunca, na história humana, a tecnologia foi tão utilizada para matar. Os dois lados inovaram com a utilização do submarinos, aeroplanos, dirigíveis e o famigerado gás venenoso, que se mostrou de certa forma ineficaz e traiçoeiro, pois de acordo com a vontade dos ventos, o gás poderia atacar o próprio exército que estava a utilizá-lo como arma.

De 1914 a 1918 o mundo assistiu a um show de horrores, patrocinado pelas grandes potências mundiais de então, com soldados entrincheirados, uns diante dos outros, entre ratos e piolhos, alimentando a grande máquina da morte que foi a Primeira Guerra Mundial.

A partir de 1917, com a entrada dos Estados Unidos no confronto, o desfecho que tendia para a vitória alemã, mudou. A Alemanha acabou capitulando. Entretanto, devemos observar que não houve vencedores. A guerra arruinou todos os lados. A Europa ficou em frangalhos com os países destruídos e as economias arruinadas.

Além disso, as exigências que foram feitas à Alemanha derrotada serviriam para alimentar o rancor e o revanchismo, combustíveis explosivos que dariam início à Segunda Guerra Mundial.

A humanidade não havia aprendido a lição.

Para ler mais:
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
REMARQUE, Erich. Nada de novo no front. São Paulo: Abril Cultural, 1981
CONRAD, Joseph. O coração das trevas. Porto Alegre: L&PM, 2001.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

NAPOLEÃO E O BRASIL


No final do século XVIII, o mundo passou por algumas grandes mudanças, como a Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos da América e a Revolução Industrial. No início do século XIX, Napoleão Bonaparte e seus exércitos já tinham dominado grande parte da Europa e criado intenso impasse com a Inglaterra, que não pretendia perder o posto de grande potência mundial para a França. Estas duas nações mediram forças constantemente no início do século XIX, pois uma das aspirações de Bonaparte era a reconstrução do Império do Ocidente, a metade ocidental do Império Romano após a sua divisão por Diocleciano no ano 286 A.D.

No meio dessa querela encontrava-se Portugal, que por não contar com um exército ou marinha que pudesse fazer frente a Bonaparte, optou por tentar manter a paz por meios diplomáticos, tendendo alternadamente entre a França e Inglaterra, pois não podia também se dar ao luxo de criar animosidade com a Grã-Bretanha, dona da maior força naval do mundo, à época. Portugal tinha duas grandes preocupações: evitar a invasão de seu território nacional e a tomada de suas colônias, das quais dependia para sobreviver. Entre aliar-se à França (declarando guerra à Inglaterra) ou perder o trono para Bonaparte, Dom João VI, regente português, tomou a decisão de fugir para o Brasil, sua colônia mais próspera

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Todos os preparativos para a viagem foram realizados às escondidas da população de Lisboa, e no dia 27 de novembro de 1807, com a família real já devidamente embarcada nas naus, Dom João VI tornou pública a notícia de que partiria com sua corte para o Brasil. Resultado: pandemônio total com pessoas correndo desesperadas pelas ruas da cidade sem saber o que fazer. No dia seguinte, a corte portuguesa tomou o rumo do Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 8 de março de 1808, sendo recebida com grande festa pelo povo da colônia.

A chegada do regente português e sua corte acelerou o desenvolvimento do país, pois a partir daí criaram-se cursos superiores, abriram-se os portos para as nações amigas e tornou inevitável a independência do Brasil.

Graças a Napoleão Bonaparte.

Para ler mais:
LIGHT, Kenneth. A viagem marítma da família real para o Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
GOMES, Laurentino. 1808. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

ESTUDO AFIRMA QUE CHEGADA HUMANA NA AMÉRICA PELO ESTREITO DE BERING É “BIOLOGICAMENTE INVIÁVEL”.

Utilizando DNA antigo, pesquisadores desenvolveram um estudo que demonstra que a chegada dos ancestrais humanos à América pelo Estreito de Bering não poderia ter sido usada, como tradicionalmente pensado. Tal estudo foi publicado nesta última quarta-feira (10/08/16) na revista Nature.


Segundo cientistas, há cerca de 14,5 mil anos atrás, abriu-se um corredor de aproximadamente 1.500 km de extensão, na região entre a atual Columbia Britânica e a camada de gelo Laurentide , no Canadá, quando lentamente, as geleiras foram recuando e dando lugar a uma ponte de terra entre a Eurásia e o Alasca, e cerca de 1.000 anos depois, segundo a teoria, os primeiros seres humanos puderam chegar à América, cruzando este “corredor livre de gelo”.

Entretanto, de acordo com Mikkel Pedersen, pesquisador do Centro de GeoGenetics da Universidade de Copenhague e autor principal do estudo, o primeiro momento em que o corredor se abriu para a passagem do ser humano foi há 12,6 mil anos atrás. E apesar da passagem estar livre não havia plantas ou animais. Ou seja, não havia meios de subsistência para o homem durante a longa e árdua caminhada em meio ao corredor livre de gelo. Lembre-se: cerca de 1.500 km sem comida ou madeira para manufaturar ferramentas ou mesmo acender uma fogueira.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores utilizaram métodos inovadores em seu estudo. Ao invés de procurarem vestígios de DNA em plantas ou animais, a equipe usou um método chamado “shotgun sequencing”, que consiste em  extrair DNA antigo de plantas e mamíferos através de sedimentos, que contém fósseis moleculares preservados de substâncias como tecido, urina e fezes.

Os pesquisadores retiraram material de um local situado na passagem estreita no corredor interno, hoje coberta pelo Charlie Lake, na Columbia Britânica, Canadá. A equipe coletou evidências, incluindo datação por radiocarbono, polen e DNA de sedimentos e recolheu amostras enquanto estava na superfície do lago congelado no inverno e concluiu que até 12,6 mil anos atrás, o ambiente era quase inteiramente desprovido de vida, tornando-se assim “biologicamente inviável” para a jornada humana rumo às Américas.

Segundo os cientistas, por volta de 12.600 anos atrás, a estepe começou a aparecer, seguida rapidamente por animais como bisões, mamutes e coelhos. É importante salientar que 11.500 anos atrás, os pesquisadores identificaram uma transição para uma paisagem densamente povoada por árvores,  como também por alces e águias, que poderiam oferecer recursos para a migração humana.

Para ler mais:
The paper Postglacial viability and colonization in North America's ice-free corridor is published in the journal Nature on 10. August 2016. DOI: 10.1038/nature19085

Sugestões para marceloferraz.cd@gmail.com

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O HOMEM NA HISTÓRIA
Desde o momento que aquele insignificante hominídeo resolveu descer da árvore, em meio aos perigos inerentes da superfície terrestre, começou sua história na Terra. De início, a coleta de frutos era suficiente para a sua subsistência. Logo mais, a caça se faria necessário, agora como atividade coletiva, com o advento da vida em sociedade. Os grupos nômades vagavam de uma região a outra em busca de meios de sobrevivência e com o passar do tempo acabaram ocupando áreas cada vez mais longínquas do globo.
As origens humanas remontam a 120 mil anos atrás, no continente africano, espalhando-se daí para todas as regiões do mundo no decorrer do tempo.

Com o mundo a conquistar, o homem precisava criar ferramentas para colocar em prática seu plano de sobrevivência e expansão. Daí surgiram artefatos de madeira e pedra, que de acordo com o avanço tecnológico foram substituídos pelos metais em suas respectivas épocas, segundo a divisão clássica da História, que seguiu a premissa de Christian J. Thomsen, conservador do Museu Nacional Dinamarquês, que classificou, no século XIX, a pré-história em idade da pedra, do bronze e do ferro.
O século XIX, aliás, foi de grandes embates nos meios intelectuais da Europa, que por essa época era considerada a nata, o suprassumo da civilização humana. As ciências, de uma forma geral, deram um salto qualitativo e quantitativo, com o surgimento da Arqueologia, Antropologia, entre outras. A disseminação do pensamento científico iria entrar em choque várias vezes com o pensamento religioso de então.
Naquele século, surgiu Charles Darwin, com sua Origem das Espécies (1859), que foi violentamente atacada pela Igreja, por não aceitar outra ideia que não fosse a do criacionismo. A Igreja, à época, defendia que o nosso planeta fora criado precisamente em 4.004 a.C., e o próprio termo Pré-história, só viria a ser utilizado comumente a partir de 1865, com a publicação do livro Prehistoric Times, de Sir John Lubbock.
O homem na História, apresenta na realidade uma infinidade de histórias, que se escrevem no decorrer do tempo, e inclusive em nosso tempo, no “hoje” e no “agora”.
Somos personagens, atores e escritores da própria história do mundo.

Para ler mais:
GOSDEN, Chris. Pré-História. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2012.

FUNARI, Pedro Paulo; NOELI, Francisco Silva. Pré-história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2015.