O
PAPEL DOS QUADRINHOS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito bélico da história da humanidade, envolvendo praticamente todas as nações do globo. De uma lado estavam os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), do outro os Aliados (Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética). O conflito se encerrou em 1945, com a invasão de Berlim pelo Exército Vermelho e a destruição de Hiroshima e Nagasaki com o lançamento de duas bombas atômicas (Little Man e Fat Boy).
O
conflito, iniciado no final da década de 1930, só caminhou para o seu término com
a entrada dos Estados Unidos, em 1941, após ser surpreendido por um ataque do Japão à base naval de Pearl Harbor. Esse evento mudou a divisão das
forças e fez com que a opinião pública norte-americana se engajasse a favor de sua participação na guerra.
A cultura de massa, representada pelo cinema e pelos quadrinhos, teve papel
fundamental nesse engajamento.
Segundo McCloud (1995),
quadrinhos são imagens pictóricas colocadas deliberadamente em sequência com
objetivo de transmitir alguma informação ou produzir alguma narrativa para quem
os lê. Voltados principalmente para o público infantil, as HQs (Histórias em
Quadrinhos), ou simplesmente Quadrinhos, são hoje um veículo consumido por
homens e mulheres de várias faixas etárias e classes sociais, em vários
formatos, mostrando o alcance dessa modalidade de literatura.
Imaginar as HQs como uma forma
de literatura inferior é, no mínimo, incorreto. Devemos pensá-las não só como
arte, mas também como fonte histórica. Tal expressão artística funcionou como meio
bastante eficaz de propaganda ideológica antes, durante e depois da Segunda
Guerra Mundial, não somente nos Estados Unidos, mas também em seu oponente, o
Japão. Cada um com suas peculiaridades.
As HQs fazem parte da produção
cultural de cada país e, dessa forma, serve como instrumento de análise da
sociedade que as produziu, mostrando-nos sua vida cotidiana, seus costumes,
sentimentos e ideologias presentes em sua época. Um acontecimento marcante,
como a Segunda Guerra Mundial, que deixou cicatrizes visíveis até hoje,
encontra nas HQs um veículo de grande simbolismo para que possamos compreender
a mentalidade vigente naqueles dias e, dessa forma, fazermos com que seus
acontecimentos não sejam esquecidos (não é esse o objetivo da História?).
Durante
a Segunda Guerra Mundial, as HQs, assim como o cinema, concorreram para
mobilizar a opinião pública a apoiar o governo, tanto ideologicamente, como
financeiramente, contra a ameaça nazista, personificada na figura de Adolf
Hitler. As HQs buscavam unir os leitores, inspirando-os a se alistar e, dessa
forma participar diretamente do conflito, ou a adquirir os bônus de guerra –
títulos da dívida pública – que serviam para financiar os gastos do governo no
conflito.
Mas
não era apena a opinião pública que servia como alvo das HQs durante a Segunda
Guerra Mundial. Os próprios soldados no front
recebiam HQs de super-heróis com o objetivo de se inspirarem nas figuras desses
seres míticos durante as batalhas. E tanto do lado norte-americano quanto do
lado japonês as HQs tiveram papel relevante de propaganda ideológica.
Ainda
antes do ingresso dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 1938, dois
artistas judeus, Jerry Siegel e Joe Shuster criaram o Super-Homem, e em 1941,
Joe Simon e Jack Kirby criaram aquele que seria o maior símbolo de resistência
da democracia norte-americana contra a tirania, o Capitão América. Esses dois
super-heróis se mostraram bastante eficientes quanto aos objetivos anteriormente
citados.
Tanto
o Super-Homem como o Capitão América representavam os ideais patrióticos
norte-americanos tanto por meio de suas ações como por meio do simbolismo de
seus uniformes, cópias veladas da bandeira dos Estados Unidos. Esse subterfúgio
foi utilizado também na criação da super-heroína Mulher Maravilha. Essa
iconografia representava uma tentativa de incentivo ao patriotismo do público
leitor, que ao consumir tais HQs se identificavam com as ideias mostradas nas
aventuras, podendo apoiar as tropas da melhor maneira possível, adquirindo mais
bônus de guerra, ou mesmo se alistando.
Inicialmente,
o inimigo a ser derrotado não foi a Alemanha, mas o Japão. Obviamente, a
opinião pública estava ensandecida com o ataque surpresa dos japoneses sobre
Pearl Harbor, e havia a necessidade de uma contraofensiva, tanto nos campos de
batalha como no imaginário popular. Com isso, os japoneses passaram a ser
retratados cada vez mais com feições inumanas, monstruosas. A edição 58 de
Super-Homem, de março de 1943, trazia em sua capa a chamada “Superman says: you
can slap a jap” (Super-homem diz: você pode esbofetear um japa), mostrando o
grau de xenofobia que a população oriental – não só japoneses, mas também chineses
– foi submetida em território norte-americano. Prova disso é a instituição da
Ordem de Exclusão Civil, assinada em 1942, que propunha que todos os cidadãos
de ascendência japonesa na costa do Pacífico deveriam se reportar a centros
militares. A edição 23 de Capitão América, lançada em março de 1943, trazia o
super-herói dando um soco em um militar japonês enquanto proferia a frase “You
started it! Now we’ll finished it!” (Vocês começaram! Agora nós vamos acabar
com isso!). Dessa forma, os japoneses se tornaram os inimigos número um a serem
combatidos nas HQs, deixando para trás os nazistas alemães e os fascistas
italianos.
Do
outro lado do globo, no Japão, as publicações estavam totalmente voltadas para
a propaganda militar, em uma clara tentativa de angariar apoio da população ao
conflito. Os norte-americanos eram retratados como demônios a serem combatidos.
Obras que retratavam robôs destruindo cidades norte-americanas também foram
publicadas. Além desse tipo de narrativa, histórias que mostravam a importância
do trabalho nas fábricas com o intuito de ajudar o país foram incentivadas.
Artistas que se negavam a se alinhar ao governo japonês eram presos, acusados
de serem antipatriotas. Os artistas que se alinhavam ao governo tinham que
produzir obras que ajudassem a levantar o otimismo da população japonesa, obras
que retratassem o inimigo como vilões a serem combatidos, ou obras em inglês
para serem jogadas contra as linhas inimigas. Essas últimas buscavam
desmoralizar os soldados norte-americanos e ingleses, contando histórias de
esposas que traíam seus maridos, enquanto eles estavam na frente de batalha.
Com
as explosões das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, e a posterior
rendição do Japão, a produção de mangás foi interrompida pela falta de matéria
prima e pela censura imposta pelos Estados Unidos. Anos depois, surgiram HQs de
temática antibélica. Uma das principais obras foi o mangá Gen pés descalços, escrito por Keiji Nazakawa, sobrevivente de
Hiroshima, testemunha ocular da atrocidade cometida pelo uso de armas
nucleares, que conta como sua família foi dizimada.
Referências:
MCCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos. São Paulo: Makron Books, 1995.
NEUMANN, Clare Laurelin Nunes. Propaganda
Ideológica Em Quadrinhos Na II Guerra Mundial: Uma Análise Pela Hermenêutica De Profundidade. Trabalho
de Conclusão de Curso de Graduação em Relações Públicas. Goiânia: UFG, 2018.
SUCHMACHER, Renan. A representação da Segunda Guerra Mundial em alguns quadrinhos japoneses de guerra e sua importância para o meio. Trabalho
de Conclusão de Curso de Graduação em Comunicação Social. Rio de Janeiro: UFRJ, 2015.
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